Somos+ : Perspectiva e Expectativas

Num contexto em que a sociedade está acrítica, é fundamental promover a massa crítica no seu seio, para o bem da própria governação e da sociedade.

Sempre acreditei em São Tomé e Príncipe. Desde pequena vi-me envolta numa profusão de princípios, valores e condutas moral e socialmente irrepreensíveis, que moldaram a minha personalidade de forma indelével e me fizeram ser, com orgulho, quem sou hoje. Tive a sorte e a oportunidade de crescer num São Tomé e Príncipe aonde, desde as crianças aos mais velhos, todos sabiam o valor do respeito, da disciplina, da educação, da solidariedade; aonde a camaradagem, a hospitalidade e o convívio se sobrepunham a diferenças de pensamento, de condição social e de ideologia política – sim, porque então havia ideologias políticas. Aonde o conceito de família era muito forte, norteando concomitantemente a sociedade e fazendo do país um “quinté n’ glandji”, aonde até os de fora se sentiam bem e em casa.

Kwame Sousa

Infelizmente, apesar de não ter vivido ainda assim tanto, numa questão de menos de duas décadas, toda esta realidade se transformou. E a transformação foi para pior. Os valores e princípios que antes guiavam, de forma natural, a vivência dos são-tomenses desapareceram; as condutas deterioraram-se de forma assustadora e o nosso futuro colectivo apresenta-se bastante preocupante.

O que será das próximas gerações? O que será de São Tomé e Príncipe dentro de 20 ou 40 anos? Que legado deixaremos às novas gerações?

A preocupação decorrente destas perguntas é, para mim, uma inquietude constante. Talvez fosse mais fácil fugir, buscar alternativas fora e alhear-me do que se passa e se irá passar em São Tomé e Príncipe. Mas não, amo o meu país e acredito nele. E acredito que, tal como eu, muitos outros concidadãos têm as mesmas preocupações mas também esperança. Mas não basta ter esperança; é preciso agir, fazer o que está ao nosso alcance para mudar o paradigma. Agir no plano social, cívico, contribuir com as nossas valências e vivências, ser agentes de mudança e contribuir para resgatar a nossa “são-tomensidade”.

E porque “a união faz a força” e todos juntos ainda somos poucos para enfrentar os desafios que se colocam ao nosso país, acredito que é necessário unirmo-nos em prol do futuro de São Tomé e Príncipe, em prol do nosso futuro colectivo. Congregar vontades e acções é crucial para o sucesso desta empreitada e cada um é chamado, no seu contexto particular, individual e colectivamente, a contribuir.

A SOMOS+ é, para mim, precisamente isto: uma associação de vontades, determinações, valências e capacidades; uma congregação de são-tomenses preocupados com o futuro colectivo e disponíveis para dar o seu contributo, dentro das suas capacidades, para o desenvolvimento do país. Um contributo que deve consubstanciar-se em parcerias com as autoridades nacionais, organizações internacionais e da sociedade civil, aportando ideias, realizando estudos e promovendo outras iniciativas sociais de relevo.

Acredito que a SOMOS+ proporcionará aos seus associados um espaço livre e franco de debate; um debate que se quer profundo, reflexivo, contínuo e autêntico sobre questões nacionais, que nos preocupam ou deviam preocupar a todos. A SOMOS+ apresenta-se, assim, como um think tank concebido para ser um espaço alternativo de reflexão, de debate, de produção e, sobretudo, de reencontro entre São-tomenses que comungam da mesma profusão de princípios e valores que guiaram o meu percurso; que defendem os princípios sacralizados na nossa Constituição e que almejam um desenvolvimento socioeconómico sustentável para São Tomé e Príncipe. Um think tank que nos permitirá unirmo-nos em torno desta nossa causa comum, despertar as consciências de outros concidadãos e enfrentar, com sabedoria e determinação, quaisquer acções que ponham em causa o futuro de São Tomé e Príncipe.

Através deste think tank, pretendemos apoiar o sector público, o sector privado e a sociedade civil a vencer os imensos desafios que se colocam ao nosso desenvolvimento enquanto país. Num contexto em que a sociedade está acrítica, é fundamental promover a massa crítica no seu seio, para o bem da própria governação e da sociedade. Uma massa crítica significativa não será apenas mais exigente com a governação como estará em condições de dar contributos úteis e concretos aos dirigentes, para o bem da sociedade.

Penso que a SOMOS+ não será mais uma associação no panorama nacional. Porque se rege por valores fundamentais para a missão a que se propôs – valores que prezo particularmente – acredito que os mesmos farão a diferença no seu percurso como Associação. São eles a objectividade, a neutralidade e imparcialidade, a credibilidade, a honradez, a elevação e a civilidade. Norteados por estes valores e imbuídos de forte espírito patriótico e determinação, acredito que conseguiremos dar o melhor de nós à nação São-tomense e às próximas gerações.