Nós e os Talentos

Carlos Barros Tiny

A desvalorização do talento conduz automaticamente ao subdesenvolvimento. No inquérito que lancei, 80% dos inquiridos relacionam a pobreza de São Tomé e Príncipe com a desvalorização do talento.

A ideia de escrever sobre este assunto nasceu depois de intensos debates que travei com várias pessoas sobre a forma como nos relacionamos com os talentos. As raízes desses debates constituem a alma do livro “Nós e os talentos” que tem como propósito consciencializar para a cultura de valorização e de retenção de talentos.

Pesquisei, entrevistei diversas individualidades nacionais e lancei inquérito nos distritos de Água Grande, Mé-Zóchi e Cantagalo para perceber melhor sobre o assunto.

Em termos doutrinários, vários pensadores pronunciaram sobre o conceito de talento. Percebi que a constituição do talento humano envolve três aspectos:

  1. Conhecimento – É o saber. Constitui o resultado de aprender a aprender, aprender continuamente e aumentar continuamente o conhecimento.
  2. Habilidade – É o saber fazer. Significa utilizar e aplicar o conhecimento, seja para resolver problemas ou situações ou criar e inovar.
  3. Competência – É o saber fazer acontecer. A competência permite alcançar e superar metas e resultados, agregar valor, obter excelência e abastecer o espírito empreendedor.

O talento esta ligado a alto desempenho e competência.

Uma primeira conclusão que podemos tirar desta obra é que o talento ainda não é visto como um obejcto institucional na formulação das políticas públicas em São Tomé e Príncipe, como defendeu a Doutora Maria das Neves, uma das individualidades nacionais que opina na obra “…em STP ainda não existe uma valorização de talento enquanto objecto institucional na formulação de políticas públicas. Existem apenas rasgados elogios fúnebres de circunstância feitos em contextos de tristeza e comoção num momento em que a própria pessoa já não faz parte do convívio social.”

Por isso, recomendo neste livro que o Estado deve desenhar políticas e estratégias para que haja a valorização e a retenção do talento.

Outro aspecto muito importante e que está intimamente ligado a primeira conclusão que acima indiquei, é que, a desvalorização do talento conduz automaticamente ao subdesenvolvimento. No inquérito que lancei, 80% dos inquiridos relacionam a pobreza de São Tomé e Príncipe com a desvalorização do talento.

Pela pesquisa nota-se que os países desenvolvidos são os que mais valorizam os seus talentos. Pessoas como Bill Gates, Steve Jobs e outros que nós admiramos o sucesso, são indivíduos com muito talento, mas tiveram em última instância o apoio institucional – o talento sem suporte institucional – vale pouco. Temos que começar a dar passos para a criação de um quadro institucional que promova e valorize talentos.

Por outro lado, sustento no livro que deve haver uma maior articulação entre o Estado, as empresas, as Universidades e os centros de formação profissional. Tal conexão poderia gerar melhor valorização de talentos.

Ultimamente, temos estado a assistir a fuga de muitos jovens para o exterior e, de certeza que, dentre eles, estão talentos em busca de melhores oportunidades. E, porque nem sempre todos são bem orientados, alguns acabam por abandonar ou seguir aquilo que já faziam com algum talento em São Tomé e Príncipe, transformando-se muitas vezes em mais um indivíduo na terra de outros, quando deveria ser uma pessoa que fizesse a diferença na sua terra natal. É sobre situações dessas que observo e ouço que também me motivou a escrever sobre o tema em análise. Andamos a perder muita gente por ausência de políticas e estratégias que valorize e retenha os talentos.

 Leoter Viegas, economista e gestor de projectos, outra individualidade são-tomense que reflecte sobre o assunto na obra, não vê outra saída se não houver novas abordagens e justifica com dados factuais.

“É irrealista pensarmos que é possível haver desenvolvimento em São Tomé e Príncipe sem a valorização de talentos, isto é, valorização do homem e da mulher são-tomense.

Os dados estatísticos sobre as projeções demográficas de São Tomé e Príncipe 2012-2035, publicados pelo INE, apontam que mais de metade da população (56,3%) está na faixa etária inferior a 25 anos, 53,7% da população tem idade entre 15 e os 49 anos e cerca de 62% tem idade entre 15 e 64 anos. Logo, estamos perante um país com uma população jovem e a população activa elevada, o que implica um esforço enorme no investimento na educação e na formação de recursos humanos. Essa educação e formação deve ter como alicerce a valorização do talento.”

Deste modo, o país deve identificar os talentos e estudar estratégias de como valorizar e retê-los. É preciso introduzir critérios e objectivos na administração do país. Se quisermos realmente produzir riquezas para melhorar a condição de vida das famílias são-tomenses, temos que, obrigatoriamente, valorizar os nossos melhores homens e mulheres.

Entre nós, notamos ainda que muitos quadros nacionais não desejam regressar ao país, e isto deve-se a forma como são tratados os talentos. Mas, não quero com isto dizer que todos os quadros que estão fora do país são necessariamente pessoas com talento. A ausência de políticas e estratégias afastam pessoas com talento de São Tomé e Príncipe como asseverou, José Cardoso Cassandra, antigo Presidente do Governo Regional da Ilha do Príncipe, que recordou o seu tempo de menino onde conheceu, Protásio Pina, um indivíduo de enorme talento naquela altura, nas artes, mas que não teve a devida valorização.

Para além das individualidades nacionais já citadas, também foram entrevistadas outras, tais como: a jornalista, Vivalda dos Prazeres; o comissário, João Pedro Cravid; e o social média, Pascoal Carvalho.

Em jeito de conclusão deste breve artigo, devo dizer que a valorização e a retenção de talento deve ser visto como factor imprescindível para a sobrevivência de um Estado em um universo global e competitivo. Espero com a obra despertar consciências, alertar e alterar a mentalidade das pessoas.

Carlos Barros Tiny

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Informação adicional

O livro apresenta duas partes sendo que na primeira   – Visão Geral – começo por esclarecer o conceito de talento, a gestão e a retenção de talento e, depois, reflicto sobre a desarticulação entre o Estado, as empresas, as Universidades, os centros de formação profissional e outros aspectos. Na segunda parte – O Inquérito –  partilho com o leitor as conclusões do questionário que lancei em três distritos de Água Grande, Mé-Zóchi e Cantagalo. O livro ainda oferece um Texto Complementar onde cruzo a opinião de algumas individualidades são-tomenses sobre a temática em relevo. A obra dispõe igualmente de uma Introdução e uma Conclusão peças fundamentais de qualquer livro.