Essa Calmaria Pós-Eleitoral na Guiné Bissau

Ricardo Gomes

Anunciar rapidamente os resultados eleitorais, e aceitar os resultados eleitorais, são variáveis fundamentais para que esse jogo funcione. Tão importantes quanto a integridade do processo eleitoral e a boa gestão do contencioso e conflito eleitorais.

Estão a sentir???

Essa calmaria pós-eleitoral na Guiné-Bissau?

O antagonismo e contencioso pós-eleitoral esvaziado?

A torrente de felicidade do lado ganhador, substituída, aos poucos, pela esperança, ou mesmo ansiedade, de que “as coisas” corram bem: Que governo? Que medidas? Quem vai para onde e quem fica de fora?

A sensação de doom’s day do lado perdedor, que inclui uma parte importante do povo, sendo paulatinamente substituída por uma nova rotina “de quem já não manda nada”, nem tem os seus “idênticos” representados na estrutura de poder?

Tudo isso é o jogo democrático.

Anunciar rapidamente os resultados eleitorais, e aceitar os resultados eleitorais, são variáveis fundamentais para que esse jogo funcione. Tão importantes quanto a integridade do processo eleitoral e a boa gestão do contencioso e conflito eleitorais.

É a única forma de funcionar!!! Tem de ser sempre assim e nunca de outra forma.

Nem as democracias mais antigas e instaladas resistem quando esses princípios não são aceites e respeitados escrupulosamente. Podem até haver erros e falhas, até ilícitos, todos devidamente tratados, mas os resultados são para ser aceites, após o seu anúncio que deve ser tempestivo e na sequência de um processo “validado” por observadores eleitorais independentes e credíveis …

Caminhar para a democracia, é um processo que julgo ser melhor representado pela seguinte parábola:

“Um fiat panda, a gasolina e com os pneus carecas, que tenha de subir uma ladeira íngreme, de uma calçada já gasta por centenas de anos de uso, em dia de chuva miúda. Só a pode subir com a mudança em primeira, o ponto de embraiagem em permanência, e numa velocidade bem balançada. Tentar meter a segunda e todas as demais mudanças que seguem, tratando-se de um fiat panda, não aguenta, perde potência…  

Nesse caso, ou consegue voltar, sem sobressaltos, ao ponto de embraiagem, ou vai-se o motor abaixo e lá vai o fiat panda parar ao início da ladeira, tendo de recomeçar tudo de novo… caso não tenha acidente mais grave…  

Se acelera demais, tentando subir mais rápido ou por não conseguir manter pacientemente o equilíbrio do ponto de embraiagem, a primeira não aguenta as rotações muito altas e estoira o motor… para além dos pneus patinarem na escorregadia calçada molhada pela chuva miudinha.”

O pensamento que não me quer largar nesta alvorada eleitoral que se sente democrática na minha Guiné-Bissau…

Que alívio poder estar ansioso à espera da governação da coligação vencedora das eleições legislativas últimas, PAI-TR, e começar a ver começarem a surgir preocupações com “a baixíssima representação das mulheres no parlamento” e o que se deve fazer quanto a isso; com “quem vai ser governo e quais vão ser as prioridades”… substituírem as preocupações costumeiras sobre “a aceitação dos resultados e a não nomeação do chefe do governo indicado pelo partido vencedor”… devagarinho, mas inexoravelmente!!!

Vamos à posse dos Deputados eleitos, nomeação e empossamento do Primeiro-Ministro e formação do governo.

Vamos à governação!!

Ricardo Godinho Gomes

Politólogo