Desafios para a Sustentabilidade Futura de Sistemas de Informação em STP

Não obstante a relativa abundância de financiamento de projetos na área de informática por parceiros bilaterais e multilaterais, nos últimos anos, a implementação, gestão e manutenção de soluções TIC na Administração Pública de STP não tem sido tão bem-sucedida quanto gostaríamos que fosse. Por razões de vária ordem, a sustentabilidade de sistemas de informação em STP deixa muito a desejar.

 

Nos últimos anos têm-se registado progressos na área das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) em São Tomé e Príncipe, nomeadamente a criação do Instituto Nacional de Inovação e Conhecimento (INIC), a criação da Autoridade Geral de Regulação (AGER), a amarração de STP ao cabo de fibra ótica ACE (Africa Cost to Europe), a criação de cursos de licenciatura na área de informática tanto na Universidade de São Tomé e Príncipe (USTP) como na Universidade Lusíada (ULSTP), a criação da Agência Nacional de Protecção de Dados Pessoais (ANPDP), a desmaterialização dos assentos de nascimento na Direção-Geral dos Registos e do Notariado (DGRN) e a implementação do sistema e-fatura na Direção-Geral dos Impostos (DGI), são indicadores importantes de melhorias nesse domínio e estão a alterar significativamente o panorama de desenvolvimento de sistemas de informação no país.

Embora na última década todos os organismos da Administração Pública de São Tomé e Príncipe (AP-STP) terem-se desdobrado em esforços no sentido da utilização de meios informáticos para a modernização de procedimentos administrativos e consequentemente pela melhoria da qualidade de serviços prestados ao cidadão, numa análise empírica da situação das TIC no país, pode-se inferir que a esmagadora maioria de organismos públicos se defronta com problemas e dificuldades na utilização eficiente e sustentada de soluções informáticas.

Não obstante a relativa abundância de financiamento de projetos na área de informática por parceiros bilaterais e multilaterais, nos últimos anos, a implementação, gestão e manutenção de soluções TIC na Administração Pública de STP não tem sido tão bem-sucedida quanto gostaríamos que fosse. Por razões de vária ordem, a sustentabilidade de sistemas de informação em STP deixa muito a desejar. Há um grande rol de soluções TIC que deixam de funcionar após o período de implementação, principalmente quando termina a assessoria técnica estrangeira e o financiamento de custos de gestão, de licenciamento de software e de manutenção de hardware.

Em regra, os projetos de implementação de soluções TIC não contemplam devidamente, o custo total de propriedade das soluções, mais conhecido como Total Cost of Ownership (TCO).

O valor de aquisição de hardware ou de desenvolvimento de software representa, em média, 5% a 10% do custo total de uma solução TIC e a fase de implementação absorve entre 20% a 40%, Ao longo do ciclo de vida das soluções, a componente de custo de maior peso relativo é o custo de exploração ou de operação da solução que pode atingir 60% a 80%, correspondem aos custos incorridos durante a fase operacional do ciclo de vida do sistema. O TCO deve incorporar todos os custos diretos e indiretos com a solução.

Por exemplo, no processo de compra de um servidor, devemos considerar para além do custo de aquisição propriamente dito, os custos com gestão, manutenção, reparação, atualização, contratos de serviço ou suporte, integração na rede, segurança, licenciamento de software, formação e capacitação de técnicos de informática.

Tendo em consideração a elevada fragilidade das nossas instituições públicas, no que se refere à estrutura orgânica e funcional dos serviços de informática, pode-se afirmar que elas convergem todos os fatores para o insucesso de uma solução informática:

  • Inexistência de um serviço de informática na orgânica da instituição;
  • Mesmo quando existe um serviço de informática, o seu posicionamento no organograma não corresponde à importância que se pretende dar à informática;
  • Nos casos em que existe um serviço de informática, em regra a dotação de técnicos de informática fica muito aquém do desejável e os lugares no quadro raramente são preenchidos;
  • As rubricas de investimento, manutenção e formação em informática, raramente constam nos orçamentos das nossas instituições públicas;
  • Muito reduzida oferta de técnicos de informática nas áreas de Administração de Sistemas e de Redes;
  • Inexistência de técnicos especializados nas áreas de Gestão de Data Center e Segurança Informática;
  • Persiste a ideia de criação de pequenos serviços de informática autónomos “pequenas quintas”, mesmo em organismos sem técnicos nem orçamento de informática;
  • Inexistência da oferta de serviços partilhados em informática (Cloud), tanto na Administração Pública como no Setor Privado.

Como é do conhecimento da comunidade de especialistas na área das TIC em São Tomé e Príncipe, os elevados custos com o investimento na aquisição e manutenção de hardware e licenciamento de software ao nível de servidores constitui um dos principais obstáculos ao desenvolvimento sustentado de sistemas de informação no país. O país não dispõe de recursos que permitam a cada instituição construir o seu Data Center.

A inexistência de uma única infraestrutura de alojamento e gestão de Hardware as a Service (HaaS) ou de Software as a Service (SaaS) ao nível nacional faz com que as instituições tenham que suportar elevados custos de licenciamento e de manutenção de infraestruturas tecnológicas de rápida desvalorização, que geralmente não são aproveitadas na íntegra.

À semelhança do que tem acontecido em quase todos os países, o processo de desenvolvimento de sistemas de informação nas organizações tem evoluído para a adoção do modelo HaaS/SaaS, tirando partido da elevada flexibilidade de se ajustar praticamente a qualquer orçamento, transformando grandes investimentos de capital em custos operacionais mensais mais baixos, evitando investimentos em tecnologia que se tornam obsoletos em pouco tempo.

O desafio que se pretende levar à consideração de gestores e especialistas em tecnologias de informação consiste na avaliação da pertinência duma colaboração conjunta no sentido de reduzir significativamente os custos totais com a aquisição e manutenção de hardware e licenciamento de software ao nível de servidores. A configuração desta colaboração poderia passar pelo estabelecimento de uma parceria multi-institucional com o objetivo de partilhar custos com recursos humanos especializados e com aquisição e manutenção de hardware e software entre instituições. Pretende-se considerar a possibilidade de criar uma estrutura que, num futuro muito próximo, permita disponibilizar serviços partilhados na área de infraestruturas TIC. A solução permitiria alojar bastidores e servidores de várias instituições, com a partilha de serviços comuns.